Dois mil e Quatorze!

Dois mil e quatorze, o que dizer de ti?  Parada aqui em Dezembro eu mal consigo olhar para trás, ao mesmo tempo que sou forçada a fazê-lo.  Você foi arrebatador, surpreendente, de momentos muito altos e momentos de extrema lama.  Eu sinto muito amor por você, você nunca vai morrer dentro de mim e como tudo o que faz parte da minha história vai significar um extremo de amor e ódio.  O buraco entre o nascimento e a morte.  O contraponto do ganho e da perda.  E que perda… Pessoalmente eu vivi os dias mais felizes e cheios de significado durante o seu curso, nasci tive experiências sobrenaturais, extrafísicas. Nascer para o orixá, no orixá, foi a coisa mais linda que eu já passei nessa Terra, realmente eu me encontrei e encontrei gente cheia de amor pra dar, cheia de ensinamentos, encontrei uma família, encontrei colo e resgatei partículas de mim mesma que nem eu sei onde estavam.  Tive uma obrigação que foi muito além das minhas expectativas (meu Motumbá à todos os meus irmãos mais velhos e mais novos). Meu preceito foi muito especial, me ensinou muito sobre eu mesma, germinou em mim um amor ainda maior pelo meu Ilê e me proporcionou momentos ímpares com a minha amada Mãe Sylvia.  Uma gama de situações, viver o cotidiano, acordar cedo, estar pertinho, ser o neném da casa, nossa, como foi gostoso.  As coisas aconteceram maravilhosamente, o primeiro semestre apesar de recluso, foi completo.  Por vezes eu ficava afogada em mim mesma pelo fato de estar tão no céu enquanto vivia na Terra, afobada com a pressa, afobada com o discurso que trazia um futuro na minha cabeça longínquo, com o desespero das palavras de que o amanhã chegaria e que eu agora, estava pronta.  Eu estava feita.  Nunca vou esquecer do dia em que ela entrara no roncó e sem me deixar falar começou a dizer aquilo que acreditava que eu precisava saber, atropelando meus pensamentos, atropelando o meu nascimento.  E eu mais do que manhosa me prostrei aos seus pés como um bebê novo que quer colo de Mãe, ou de Vó.  Ah, mas quanta manha eu fiz.  Eu me aproveitei ao máximo de ser a caçula, a neném manhosa, a mais nova, a pequena… enfim, eu fui ao máximo a neném da casa e como isso foi delicioso.  Sempre tinha para onde correr, aonde chorar, com quem falar, pra quem reclamar, a quem recorrer, colo pra me acalentar. E assim foi, de Abril à Julho.  Em Julho vivi um dos momentos mais preciosos do nascimento e foi lindo. Motumbá Douglas Carneiro, Motumbá Lilian Coutinho.  Pronto.  Estava nascida e estava liberta. Feliz.  Orgulhosa! Satisfeita! Convencida de que minha vida agora havia mudado, eu era a neném e assim iria ser pra sempre… Agora que eu tinha aprendido a fazer manha até o talo eu ia fazer, ia deitar, rolar e me jogar no colo daquela que foi definitivamente a maior Mãe que eu já conheci.  Uma semana depois última etapa completa, beijos, abraços e muito chamego na minha Mãe que naquele dia amanhecera um pouco debilitada. “ É manha!” pensei.  Abracei, beijei, fiz carinho e fui embora, sabendo que ela ia melhorar.  No dia seguinte a notícia de que ela fora internada.  “Calma, 02 de Agosto, como assim? Pára.  Não. Calma. Espera. O que que tá acontecendo?” De repente UTI.  O desespero começou a bater, o medo, a fraqueza.  Como pode? O barco virar assim? Dia 08 de Agosto a notícia mais avassaladora da minha vida até então.  Fiquei sem chão. Minha prima, que é minha Mãe também, me liga, me pede pra ser forte e diz que vai precisar de mim.  Congela.  COMO ASSIM? O que que tá acontecendo? Como que ela pode me deixar uma semana depois? Foram anos pra que eu aceitasse, anos para que eu escolhesse, anos para que ela conseguisse, e agora ela me deixara? Foi o dia mais triste da minha vida, parecia que não tava acontecendo, uma sensação surreal de “isso não tá acontecendo”, mas aconteceu.  A Mãe morreu. E foram meses difíceis.  Como que podia eu sair do céu e entrar no inferno assim tão rápido? Eu tava acostumando a ser filha, a ser neta, a ser neném, a ter espaço… como? Mas foi.  E eu chorei muito.  Choro até hoje.  Choro de saudade, choro de amor, porque não cabe aqui no peito quando lembro das coisas que eu tive o privilégio de viver ao lado dela.  Em mim, só mora gratidão porque ela me deixou pronta e não me deixou órfã, porque eu tenho Mãe.  Minha mãe é Mãe, prima, amiga, irmã… tudo.  Ainda é muito difícil para todos nós, mas a gente segue… Eu particularmente sigo orgulhosa de ver como as coisas estão sendo tocadas.  Sigo esperançosa.  Sigo alerta.  E com a noção de que eu nada sei da vida.  2014 me mostrou que eu posso ter muito mais do que eu espero, a vida pode me surpreender com coisas muito incríveis onde eu nem imaginava, de formas que eu nem sequer calculava e também pode me mostrar que os planos que eu traço de nada tem sustenção, porque ela vem e revira tudo.  Destrói.  Fui muito surpreendida esse ano.  Encontrei jóias preciosas onde achei que não ia encontrar absolutamente nada e me deparei com muito lixo em lugares inesperados.

Dois mil e quatorze, você foi o ano dos extremos.  Obviamente eu sempre tenho mais motivos para agradecer, eu só tenho motivos para agradecer na verdade.  Estou amparada e por mais fundo que seja o buraco, sempre tem alguém lá encima me dando forças pra subir. Você mora na minha história de uma forma absoluta e nem que eu quisesse eu conseguiria apagá-lo.  Levo de ti muitas lições e aprendizados, mas o que mais me marca é a noção de que eu sei absolutamente nada a respeito da vida.  

Obrigado por ter me dado momentos tão preciosos e especiais, esses moram para sempre dentro de mim.  Obrigado por me dar tanto amor, nunca vivi tanto amor igual esse ano.  Amor de todas as formas e jeitos, em vários lugares e de várias origens… Obrigado à todos que me socorreram no desespero.  Obrigado família! Obrigado amigos! Obrigado de verdade!

Obrigado Iansã por escolher minha cabeça.  Obrigado Iyá Paula por me fazer com tanto amor! Obrigado Pê por fazer tudo o que fez por mim! Obrigado minha Mãe Morô que eu amo tanto! Obrigado Madrinha Renata Alves pelo carinho e cuidado sempre!!! Obrigado aos paparicos dos irmãos todos que me cuidaram com tanto amor e carinho. Obrigado à minha família que foi tão incrível e participou de um dos dias mais felizes da minha vida.  Obrigada Diogo Henrique Prado, sem palavras, sair de outro continente pra apoiar uma escolha é algo muito foda.  Obrigado Elaine! <3 <3 <3 Obrigado aos meus amigos que foram super compreensivos e respeitaram tanto a minha escolha!!!! 

Agora para 2015:  “Pega um pouco mais leve, porra!” 

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